A recente decisão dos Estados Unidos e da China de reduzir tarifas de importação por um período de 90 dias está movimentando o mercado de commodities e pode impactar a dinâmica das exportações brasileiras de soja para o gigante asiático. Embora especialistas do setor indiquem que essa pausa não deve reduzir o fluxo de vendas do Brasil para a China no curto prazo, há implicações que podem afetar os prêmios de exportação e a demanda futura.
O Brasil se consolidou como o maior fornecedor de soja para a China, competindo diretamente com os EUA, que ocupam a segunda posição nesse mercado. Historicamente, o primeiro semestre do ano é favorável para os produtores brasileiros, já que os Estados Unidos colhem sua safra apenas a partir de outubro. No entanto, com a redução das tarifas impostas pelos dois países—de 145% para 30% nas importações chinesas e de 125% para 10% nos produtos americanos—abre-se a possibilidade de que os chineses antecipem compras da soja americana, ainda que a entrega dos grãos só ocorra no final do ano.
O analista de mercado Rafael Silveira, da consultoria Safras & Mercado, explica que essa movimentação pode afetar os prêmios de exportação pagos pela soja nacional, já que a demanda adicional da China por grãos brasileiros pode diminuir. “Os prêmios nos portos brasileiros estavam subindo porque havia uma demanda extra de soja por parte da China. Isso já vinha acontecendo há mais de um mês, e os prêmios estavam positivos em plena colheita, o que não é comum”, explica Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio.
No dia em que foi anunciado o acordo entre os dois países, os prêmios começaram a recuar—a tendência já se delineava desde os rumores de que uma trégua estava sendo negociada. Apesar desse declínio, a bolsa de Chicago registrou alta de 1,81% no preço da soja na mesma data.
A queda nos prêmios pode se intensificar no segundo semestre, aponta Silveira, já que a menor pressão da demanda chinesa tende a limitar ganhos adicionais para os exportadores brasileiros. “Era para ser uma situação contrária. Pelo que estava se desenhando, nós teríamos prêmios nos portos muito mais altos”, destaca o analista.
Apesar das mudanças, especialistas avaliam que a China continuará mantendo um fluxo sólido de compras do Brasil. Desde o governo de Donald Trump (2017-2021), os chineses têm reduzido sua dependência da soja americana, o que pode garantir certa estabilidade às exportações brasileiras, ainda que com ajustes na precificação.
A movimentação do mercado nos próximos meses será fundamental para que produtores e exportadores brasileiros ajustem suas estratégias diante desse novo cenário comercial.