Um café expresso por R$ 10 já não é mais exagero: é realidade em muitas padarias brasileiras. O aumento explosivo no preço do grão, que dobrou nos últimos 12 meses, tem causado estranhamento no bolso dos consumidores e preocupação em toda a cadeia produtiva. E, de acordo com especialistas, a normalização desses preços só deve acontecer — se acontecer — a partir de 2026.
Segundo dados do IPCA, o café torrado e moído acumulou alta de 98,4% desde janeiro de 2021, com maio de 2025 registrando um aumento mensal de 4,6%. A disparada nos preços já se reflete no consumo: houve uma retração de 16% nas vendas em abril em comparação ao mesmo mês de 2024.
A explicação por trás da alta envolve uma combinação de fatores climáticos e logísticos. “Estamos diante de uma tempestade perfeita”, define Vanusia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café (OIC). A produção foi severamente afetada por secas prolongadas e chuvas mal-timed durante a florada, especialmente no Brasil e no Vietnã — os dois maiores produtores globais. A isso se somam custos elevados de frete, fertilizantes e incertezas econômicas mundiais, além de uma demanda crescente em países como a China.
Para os cafeicultores, o cenário é agridoce. “Seria ótimo aproveitar esses preços altos, mas não há café para vender”, lamenta Bruna Malta, produtora e proprietária de cafeteria em Franca (SP). Enquanto parte dos produtores consegue alguma margem de lucro, muitos apenas saldam dívidas acumuladas. O medo de roubos também cresce: com a valorização do grão, aumentam os investimentos em segurança nas propriedades.
Ainda que colheitas promissoras em 2026 possam aliviar os preços, a OIC alerta que este novo patamar pode ter vindo para ficar. Sustentabilidade, rastreabilidade e adaptação às mudanças climáticas são agora exigências do mercado — e todas elas encarecem a produção.