Imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan e Valneva tem alta eficácia e já foi aprovado nos EUA e Europa. Vacina induziu anticorpos em 98,9% dos voluntários em ensaios clínicos.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro definitivo da primeira vacina contra a chikungunya no Brasil. O imunizante foi desenvolvido em parceria entre o Instituto Butantan, vinculado ao governo de São Paulo, e a farmacêutica Valneva, da França e Áustria. Com a decisão, a vacina está liberada para uso em pessoas acima de 18 anos.
A aprovação se baseou em estudos clínicos realizados nos Estados Unidos com 4 mil voluntários, que demonstraram que 98,9% dos participantes desenvolveram anticorpos neutralizantes contra o vírus. Os resultados foram publicados na renomada revista The Lancet em 2023.
Esta é a primeira vacina do mundo contra a chikungunya e já recebeu aval das agências regulatórias dos EUA (FDA) e Europa (EMA). A doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, já registrou 620 mil casos globais em 2024, com maior incidência no Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia.
Próximos passos para disponibilização no SUS
Apesar da aprovação da Anvisa, ainda são necessárias algumas etapas antes que a vacina seja distribuída à população:
- Produção nacional: O Instituto Butantan está adaptando o processo de fabricação para incluir componentes brasileiros, facilitando a incorporação pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
- Análise da CONITEC: A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS avaliará a inclusão da vacina no Programa Nacional de Imunizações (PNI).
- Estratégia de vacinação: O Ministério da Saúde poderá priorizar regiões endêmicas, onde a doença é mais frequente.
“A partir da aprovação pela CONITEC, a vacina poderá ser fornecida estrategicamente. No caso da chikungunya, é possível que o plano seja vacinar primeiro os residentes de áreas com mais casos”, explica Esper Kallás, diretor do Instituto Butantan.
Por que essa vacina é pioneira?
Diferentemente de outras vacinas, que exigem estudos de eficácia (comparando casos em vacinados e não vacinados), a aprovação da vacina contra chikungunya se baseou na resposta imune (produção de anticorpos). Isso ocorre porque o vírus não circula de forma constante, dificultando testes tradicionais.
Em um estudo brasileiro de fase 3, publicado na The Lancet Infectious Diseases (2024), a vacina induziu anticorpos em:
- 100% dos voluntários já expostos ao vírus;
- 98,8% dos que nunca tiveram contato com a doença.
Os efeitos colaterais foram leves ou moderados, como dor de cabeça, fadiga e febre.
O que é chikungunya e como prevenir?
A chikungunya é uma doença transmitida pelo Aedes aegypti, o mesmo mosquito da dengue e Zika. Em 2024, o Brasil registrou:
- 267 mil casos prováveis;
- 213 mortes (dados do Ministério da Saúde).
Principais sintomas:
✔ Febre alta repentina (acima de 38,5°C)
✔ Dores intensas nas articulações (mãos, pés, tornozelos)
✔ Dor muscular e manchas vermelhas na pele
✔ Em alguns casos, dor crônica nas articulações
Como se proteger?
Além da futura vacinação, é essencial combater o mosquito:
- Eliminar água parada em vasos, pneus e garrafas;
- Usar repelente e telas em janelas;
- Manter piscinas e caixas d’água limpas.
A aprovação da vacina representa um marco no combate à chikungunya, doença que causa sofrimento prolongado e sobrecarrega o sistema de saúde. O próximo desafio é garantir sua distribuição equitativa no SUS.