Com uma matriz energética predominantemente renovável, o Brasil reúne condições estratégicas para se destacar na transição energética mundial.
O país já conta com forte presença de hidrelétricas e avança na geração de energia solar e eólica, o que pode impulsionar a adoção de novas tecnologias sustentáveis e ampliar a oferta de energia limpa.
Especialistas afirmam que, além de suprir sua própria demanda, o Brasil tem potencial para expandir sua produção e atender setores industriais, além de exportar energia em formatos inovadores, como o hidrogênio verde, obtido a partir de fontes renováveis.
Potencial energético e inovação
Segundo o professor Ricardo Ribeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o Brasil possui cerca de 194 gigawatts (GW) de capacidade instalada em geração elétrica, sendo 85% provenientes de fontes renováveis. Esse patamar permite que o país foque em inovação e novas tecnologias, como o hidrogênio verde, que pode ser utilizado na indústria de fertilizantes e no transporte pesado. “Essa tecnologia pode reposicionar o Brasil como fornecedor global de energia limpa”, destaca Ribeiro.
Outro fator promissor é a energia eólica offshore, gerada no mar. Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) apontam que o litoral brasileiro pode gerar até 700 GW, sendo que 160 GW já estão em processo de licenciamento ambiental—um volume superior ao de diversas matrizes nacionais.
A professora Suani Teixeira Coelho, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), alerta que o Brasil atravessa uma “janela de oportunidade” para alavancar o setor, ressaltando a necessidade de políticas públicas para incentivar a produção nacional e a inovação tecnológica.
Corrida internacional pela energia limpa
Enquanto isso, países como Dinamarca, Islândia e Noruega lideram investimentos em energias renováveis. A Dinamarca é referência em energia eólica, inclusive offshore, e transforma resíduos orgânicos em hidrogênio. A Islândia utiliza amplamente energia geotérmica, enquanto a Noruega se destaca pela popularização de veículos elétricos.
Apesar de serem grandes emissores de carbono, China e Estados Unidos também avançam na transição energética. A China, responsável por 38% dos investimentos globais em 2023, lidera a produção de baterias e veículos elétricos. Os EUA, por sua vez, se destacam em pesquisa e desenvolvimento de energia solar e eólica.
Desafios e oportunidades
Para acelerar a transição energética, o Brasil precisa de políticas públicas mais ambiciosas. Especialistas apontam a necessidade de incentivos fiscais, metas claras de descarbonização, criação de um mercado regulado de carbono e maior apoio à pesquisa científica.
O setor privado também tem papel fundamental ao investir em eficiência energética e geração própria com fontes limpas. Segundo Ribeiro, essas práticas “reduzem custos operacionais e tornam as empresas mais competitivas”.
A sociedade pode contribuir adotando medidas sustentáveis no dia a dia, como economia de energia e apoio a iniciativas de geração renovável. A participação cidadã é crucial para consolidar a transição energética como prioridade política e econômica.
Com abundância de sol, vento e recursos hídricos, além de capacidade técnica crescente, o Brasil tem a chance de se tornar protagonista na revolução energética global—desde que haja planejamento e investimentos estratégicos.